A Cadela e o Morcego – História Real
A cadela e o morcego, uma história da Família Trovão
Por: Jorge Trovão
Quando eu digo que minha família não é normal ninguém acredita…??♂
Ontem, 12/07/2018, o final da noite nos trouxe uma situação bastante diferente de nossa rotina familiar. Um episódio, digamos, Transilvânico.
Minha neta, a cadela Mimosa, certamente na intenção de brincadeira, abocanhou um morcego que voava baixo em nosso quintal.
Como temos árvores frutíferas eles costumam vir se alimentar por aqui noturnamente (o corretor me mostrou que está errado, mas diariamente estaria menos correto…?).
Minha família já está acostumada a eles e acho até que eles a nós, apesar de sermos nós…?
Eles vêm em família também, às vezes só dois grandes, às vezes três, mas já vi em cinco, com dois pequenos, então devem entender como é ter família grande e nos perdoar.
Eles circulam todo o quintal e em alguns momentos até invadem a varanda e as meninas aqui de casa até se assustam um pouco, principalmente quando dão aqueles voos rasantes.
Mas o rasante de ontem não acabou bem pra ninguém…
Meu filho, Jorge, ouviu um barulho estranho e alertou a todos. Quando chegamos, nos deparamos com a Mimosa excitadíssima, abanando o rabo e segurando o bichinho entre as patas e o chão.
Gritamos com ela e conseguimos tirar o morceguinho de suas ferozes garras (brincalhonas patas desajeitadas seria a realidade, mas quero dramatizar..rsrs).
Infelizmente, não conseguimos afastá-la antes dela tê-lo machucado.
O Morceguinho Cai no Chão
O pobrezinho estava no chão se arrastando sem conseguir mais voar, mas ainda vivo.
Nessa hora, choros, gritos, latidos…acho que fui o único aparentemente calmo.
Peguei o bichinho com a pá de lixo, já que todos gritavam para não pôr a mão, e vimos que ele estava com um furo nas costas, provocado certamente pelo canino da canina.
Após prendermos a delinquente e ampararmos o ferido, liguei correndo para uma clínica veterinária, para saber o que fazer com ambos, pois a Mimosa poderia ter sido infectada por alguma doença, já que ela não é totalmente adulta e pelo morcego, pra perguntar o óbvio: O que fazer com ele? Como podíamos ajudá-lo?
Fui atendido por uma plantonista muito simpática (que infelizmente não recordo o nome para dar os créditos de excelente atendimento), que perguntou das vacinas da Mimosa.
E me disse para que lavássemos bem a boca e focinho dela e a mantivéssemos sob observação; e quanto ao morceguinho, que tentássemos mantê-lo aquecido, talvez com uma lâmpada, até a manhã de hoje, quando teria plantão de uma especialista em animais silvestres.
Disse ainda que podia passar algum medicamento que temos em casa para feridas das crianças, mas que realmente tentasse não manipular o pobrezinho, por conta de parasitas e outras coisas.
Bem, enquanto a mãe da Mimosa, Julianna, lavava a boca, focinho e escovava seus dentes, eu, Joyce e os pequenos corremos para arrumar uma caixa de sapatos, fazer furos para circulação de ar, forrar com panos, passar pomada com cotonete em seu ferimento e até colocar uma goiaba caso ele sentisse fome (não lembro de qual sumidade foi essa ideia da goiaba, mas acho que foi da Anna Júlia…?).
Providenciamos um abajur e colocamos a caixa, que a essa altura já era quase uma suíte master, em local seguro (longe da Monstruosa, digo, Mimosa).
Após toda a correria, quando todos estávamos com batimentos cardíacos mais normalizados, informei à Julianna que pela manhã eu levaria o morcego, já adequadamente apelidado de Batman, ao veterinário e que ela, mãe da Mimosa, deveria me ressarcir do que eu gastasse lá, o que ela de pronto rejeitou veementemente.
A Mãe da Cadela Mimosa
Pra quem não sabe, Julianna tem trabalho assalariado, diga-se de passagem em uma excelente empresa, acho que se chama Preço do Gás ????, um maravilhoso aplicativo para entrega de gás de cozinha (www.precodogas.com.br), e ela é a mantenedora dos gastos de sua filha, Mimosa.
Em defesa de sua cria, mas principalmente do seu bolso, Julianna alegava que a Mimosa não fez por querer, que não teve culpa, que ela só queria brincar, etc, etc, etc…
E que, por tal, não iria pagar a consulta, possível tratamento fisioterápico e/ou próteses do enfermo morcego.
Afirmou ainda que a culpa foi da vítima, que não deveria invadir o quintal da Mimosa e, sobretudo, cometendo a imprudência de voar tão baixo, invertendo assim, não só a culpabilidade do ocorrido, mas quase também a responsabilidade.
Só faltou dizer que o autor de Drácula deveria repassar parte dos direitos autorais para a Mimosa, em vista do trauma adquirido.
Com a negativa da Julianna em arcar com as futuras despesas necessárias, tive uma excelente oportunidade de ensinar algo a todos os filhos… A diferença de dolo, culpa e responsabilidade inerente a ambos.
A Cadela e o Morcego Ajudaram na Educação das Crianças
Usei de um simples exemplo:
- se um de vocês, jogando bola, quebrasse uma janela ou amassasse o carro de um vizinho, digamos ainda que o imprudente vizinho parou o carro onde estavam jogando bola, mesmo ninguém tendo feito por querer, ou seja sem o desejo de fazer isso, eu, seu pai, não teria a responsabilidade de pagar pelo conserto?
- Ah, mas o morcego não é uma coisa material que se quebra..
- Pior, é um ser vivo, que pode não ter nem conserto. Um filho de Deus, como nós.
Silêncio!
Todos pensando, uma certa relutância, mas utilizando o poder de pai, chefe e principalmente o do desconto consignado a que eu me prevaleço ?, o assunto acabou com a quase concordância do socorro ao agora convalescente Draculino.
Tudo certo, apesar de a carteira da Julianna ficar visivelmente contrariada.
Cheguei a ouvir ela em seu bolso dizer: Droga! Me ferrei de novo! ??♂????
Infelizmente, hoje pela manhã, ao verificar os seus aposentos, o Batman já havia nos deixado (e para o seu azar, não foi voando), não sendo mais possível levá-lo à clínica veterinária, mas ficou essa valiosa lição e essa bucólica fuga de rotina para a Família Trovão.
O que Aconteceu com “Batman” Morceguinho da Família
Ficamos tristes pelo ocorrido e lamentamos profundamente o desencarne do nosso irmãozinho vampiro.
Não houve velório, pois a família do de cujos não foi localizada à luz do dia.
Mimosa, que agora eu estou chamando de Monstruosa ou cadela assassina, deve ser submetida às necessárias restrições cabíveis ao caso, até sua reabilitação canina.
Quanto à Julianna, espero que esteja mais lamentando a passagem dessa pra melhor do Edward (vampirete do Crepúsculo) do que comemorando o fato de ter uma despesa a menos.
Abraços a quem leu até aqui e parabéns pela obstinação e paciência. ??
Prometo que, quando eu publicar o livro, já separo um com autógrafo na contracapa, pois certamente é meu fã.
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